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QUEM MORA LÁ?

Os moradores de Alphaville são auto-gestores de suas comunidades,

os condomínios fechados, participando de reuniões mensais.

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ENTREVISTA COM PAULO, LUCIANA E MARIA ANTÔNIA
 

ex-moradores de Alphaville, com a participação de Maria Antônia Furtado, que trabalhou como babá das três filhas do casal há vinte anos atrás. Paulo e Luciana viviam em uma casa no Alto da Lapa, se mudaram para Alphaville e, depois de 14 anos vivendo no bairro, resolveram voltar para São Paulo. Eles são pais de uma das autoras desta pesquisa, Camila Moraes, que será também a interlocutora desta entrevista.

CAMILA MORAES Porque vocês decidiram sair de São Paulo e ir para Alphaville?

 

LUCIANA MORAES Ih, são duas questões…

 

PAULO MORAES Sua mãe queria no interior e queria mais segurança.

 

LM Eu vou com o item número dois, que é a segurança. Porque na época a gente tinha sofrido assalto em São Paulo, então eu estava desesperada por um lugar seguro.

 

CM Que tipo de assalto?

 

LM Invasão na casa. [nossa casa ficava no Alto da Lapa, na City Lapa.]

 

MARIA ANTÔNIA FURTADO Arrebentaram a janela e detonaram tudo.

 

CM Mas não tinha ninguém na casa?

 

LM Não. Vocês eram muito bebês. Nem lembram de nada, né? Quando chegamos em casa e vimos aquilo, eu catei vocês duas [falando de mim e da minha irmã Tatiana] e saí correndo.

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“(...) a gente tinha sofrido assalto em São Paulo, então eu estava desesperada por um lugar seguro.”

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PM Nós já tínhamos sofrido tentativas de assalto umas sete vezes...

 

MAF Teve aquela vez que tiraram a antena do seu carro pra abrir a porta. Lembra, Lu?

 

CM Ué, como se abre uma porta com antena de carro? PM Era porta de vidro, eles tentavam subir o pininho, tipo um anzol. Só que a gente colocava também uma trava atrás, então mesmo subindo o pininho, não ia conseguir abrir a porta.

 

LM É, mas no dia que a faxineira ia lá limpar a sala, ela esquecia de colocar a trava e aí já era né, Táta, lembra? Era muita porta pra fechar…

 

CM Você lembra, Táta, dos assaltos? [ Táta é o apelido de Maria Antônia]

 

MAF Lembro sim. Foi um movimento, helicóptero sobrevoando…

 

LM Tinha uma onda de assaltos na região, os caras estavam pulando pelos telhados das casas. Não era só o nosso chamado, tinham outros. Começou a ficar uma região difícil e eu comecei a procurar um bairro mais seguro. Eu não queria morar em apartamento, mas a gente acabou alugando um e ficou uns dois anos e meio lá. [sobre o apartamento onde moramos na Vila Leopoldina]

 

CM: Por quê a gente se mudou pro apartamento?

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LM Foi uma medida de emergência depois desse assalto. Eu não queria mais 248 249 morar em casa e apartamento era mais seguro.

 

PM No apartamento, a gente começou a procurar alguma coisa fora de São Paulo, em condomínios, porque a gente queria voltar a morar em casa por causa de vocês [falando de mim e das minhas irmãs], a gente queria dar mais liberdade pra vocês, nesse sentido de morar em casa. Então por procurar alguma coisa mais segura e a sua mãe não queria mais ficar em São Paulo, o mais próximo que a gente achou e que tinha a estrutura que precisava e que eu poderia trabalhar em São Paulo foi Alphaville.

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“(...) a gente começou a procurar alguma coisa fora de São Paulo, em condomínios, porque a gente queria voltar a morar em casa por causa de vocês [falando de mim e das minhas irmãs], a gente queria dar mais liberdade pra vocês (...) “

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LM Aí num domingo a gente tava lendo jornal e vimos um anúncio: “Casas inteligentes no Tamboré”.

 

CM Por quê inteligentes?

 

LM Ah, era o anúncio...qual que era o motivo mesmo... eram aquelas “casicas” grudadinhas uma na outra e tinha drywall, então dava pra fazer mudanças na casa…

 

PM É, nós fomos achando que íamos encontrar algo legal, mas chegando lá era aquele condomínio do Tamboré com casas prontas geminadas, sabe? Foi quando a gente viu que não era aquilo o que a gente queria, mas sim uma casa num condomínio que tivesse um terreno pra poder…

 

LM Uma casa, com jardim, recuo de jardim, e não grudada uma na outra.

 

PM Piscina, tudo pra que vocês pudessem aproveitar a casa, a idéia era que vocês pudessem aproveitar ao máximo uma região dessa, porque aqui vocês não estavam podendo, vocês saiam só de carro pros lugares, escola, aula de natação, tudo sempre com muito cuidado…

 

CM Mas quando a gente morava na casa do Alto da Lapa, vocês não tinham esse medo da gente sair na rua?

 

PM Só depois da onda de assaltos. A Maria Antônia passava o dia naquelas pracinhas perto de casa, ia de manhã e voltava só à tarde.

 

MAF Nossa, era uma delícia, a gente pegava fruta na árvore, vocês iam na casa dos amiguinhos na mesma rua…

 

LM Ainda não tinha essa história de parar um louco motoqueiro e assaltar na rua sabe, não tinha isso....

 

PM A gente começou a procurar pra se mudar pra vários lugares onde tinham condomínios e fomos até pra Jundiaí ver, mas ficava muito fora de mão. Eu trabalho em São Paulo, meu trabalho depende de São Paulo, então a opção que melhor tinha uma estrutura e animou a gente foi Alphaville mesmo. Apesar de que no começo a gente tinha o maior preconceito de Alphaville.

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“a gente achava que em Alphaville as pessoas largavam os filhos e os filhos viravam todos drogados e não dava muito 250 251 certo. (...) tinha a maior fama disso.”

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CM Por quê?

 

PM Porque a gente achava que em Alphaville - todo mundo que mudava pra lá voltava falando -, as pessoas largavam os filhos e os filhos viravam todos drogados e não dava muito certo. Além disso, a gente tinha o exemplo do sobrinho do Rubinho [os nomes citados foram trocados], que a família morava em lá e acabou acontecendo uma desgraça pra eles… O Alphaville tinha a maior fama disso. Também tinha fama de que era super longe e tinha o maior trânsito pra chegar. Só que o meu pai tinha um amigo no governo que falou que tinham sido aprovadas as obras do Rodoanel e da Pedagiada da Castello, então o que comprássemos em Alphaville, teria uma valorização enorme. Foi aí que a gente foi ver alguma coisa lá, mas não gostamos de nenhuma casa então compramos um terreno pra construir. Primeiro, a gente gostou de uns terrenos no Tamboré 1, mas um tinha vista para a favela e o outro, na passagem dele, dava pra ver a favela também. O formato daquele terreno era o que eu queria, mas além dessas coisas - eu não ia aguentar viver assim, eu em uma casona vendo as pessoas na favela -, esse condomínio é muito grande e até chegar no terreno era um caminho enorme, os lotes são isolados demais. Ouvimos falar sobre o Tamboré 2 e fomos olhar, aí a gente achou o terreno que a gente gostava.

 

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nota: Estes mapas, produzidos pela equipe, pretendem relativizar as permissões de acesso dos entrevistados dentro do bairro de Alphaville, demonstrando onde cada pessoa pode ser liberada nas portarias.  O que está preenchido por cor é onde a pessoa não tem acesso e o recorte em branco onde ela pode sua entrada é permitida.

A referência para a produção de tais imagens são os mapas gravados em 1748 pelo arquiteto e agrimensor italiano Giambattista Nolli, que representou Roma destacando seus espaços cívicos livres, diferenciando-os do preenchimento preto que demarca lotes.

ENTREVISTA COM GIOVANNA E LUIZ FELIPE
 

“(..) morar em Alto de Pinheiros não é tão diferente, porque o muro é mais circunscrito na casa.”

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CM E você?

 

LFO Eu gostava muito de morar lá quando era menor. Mas eu estudava em Aldeia [da Serra], então sempre tive que me deslocar, pegar estrada para ir para a escola, visitar amigos que moravam em Aldeia... mas a vida de criança de brincar na rua, andar de patins, jogar bola e ter os vizinhos, você vai a pé, ter uma liberdade para brincar na rua... Era “tô indo brincar na rua. Tchau, Mãe!”, ninguém fica te fiscalizando, nem nada. Isso sempre foi muito gostoso. Daí no colegial começou a ser um problema, porque comecei a fazer colegial em São Paulo. Então tinha os amigos em São Paulo, os roles à noite. E aí, taxi é caro, os pais tinham que buscar...Tinham coisas de morar em condomínio que não eram legais. Muita segregação. Mas ao mesmo tempo, também, morar em Alto de Pinheiros não é tão diferente, porque o muro é mais circunscrito na casa. Alphaville é um agrupamento urbano muito diferente. Na faculdade fui gostando cada vez menos. Agora, nesse último ano, eu voltei a gostar mais de Alphaville. Essa coisa de estar mais afastado, de ter mais verde, de ter na casa uma área com jardim maior e que também dá possibilidades diferentes de um apartamento. Tenho valorizado mais essas coisas.

 

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“Era “tô indo brincar na rua. Tchau, Mãe!”, ninguém fica te fiscalizando, nem nada. Isso sempre foi muito gostoso.”

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CM O Alguma opinião sobre Alphaville mudou agora que cursam a faculdade de Arquitetura?

 

LFO É louco estudar a cidade jardim, né? Muda um tanto a visão. Eu acho complicado esse sistema de você ter condomínios e esses espaços entre eles que não é uma coisa nem outra. Aí tem o condomínio comercial e o condomínio residencial, você perde o espaço público. Acho que isso é super problemático. Arquitetonicamente, é péssimo. As casas, eu acho todas feias, inclusive a minha.

 

STELLA BLOISE Antes você achava a arquitetura ok?

 

LFO Antes, eu não pensava sobre isso. Mas hoje percebo que ubanisticamente é tenso. Especialmente urbanisticamente. Tem as portarias, que você põe a digital para entrar. Acho que isso tem um efeito nas pessoas terrível. Fica com uma mania de autoridade, que eu ponho meu dedo e a porta abre para mim e os outros não têm o mesmo poder. Uma coisa que não acho que seja normal.

 

GT A questão do transporte me pega muito lá. Por que até ter um carro, eu vivia mais de ônibus e táxi. Mas, boa parte dos meus amigos era mais táxi mesmo, porque enfim, os pais não deixavam andar de ônibus. Se você pensar, por exemplo, o Tamboré 3 tem uma van interna porque quem não tem o carro leva de vinte a trinta minutos para chegar na casa. E no geral pra andar a pé em Alphaville é aquele passeio chato, principalmente se você está andando por fora, que é um muro quilométrico.

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estudantes do curso de arquitetura e urbanismo na Escola da Cidade, no centro de São Paulo, e atuais moradores de Alphaville. Foi de extrema relevância travar o diálogo com duas pessoas que compõem o perfil de jovens, mas que, ao mesmo tempo, construíram uma visão crítica ao modelo urbanístico de Alphaville proporcionado por suas graduações, junto à própria reflexão de morador. A conversa se deu na própria faculdade em junho de 2017. Camila Moraes, Stella Bloise e Beatriz Dias participam como interlocutoras desta conversa.

CAMILA MORAES Há quanto tempo vocês moram em Alphaville? Vocês nasceram lá ou foram para lá e porque?

 

GT Eu fui para lá faz oito anos. Eu tinha nove na época e morava em Osasco. Numa casa alugada. E aí, sonho de vida: vamos construir nossa casinha. E a família era muito menor que hoje em dia. Era mais barato comprar o terreno em Alphaville do que comprar em Osasco, minha família inteira é de Osasco. A terra em Osasco é bem cara, e aí a gente foi para lá. Conseguíamos construir uma casa grande. E tem isso, meu pai, morou em Osasco, família toda de lá. Ambição de vida é se mudar para o Alphaville, eles chamam de O Alphaville. Eu moro lá nO Alphaville...

 

CM Meio que tem Osasco e aí tem Alphaville, são os passos de vida, né.

 

GT É bem isso, “vou subir de vida, eu vou para Alphaville” Então, uma galera, mesmo depois que a gente se mudou, muitos amigos dos meus pais acabaram indo para lá. “E aí, sonho de vida: vamos construir nossa casinha.”

 

LUIZ FELIPE ORLANDO Eu moro lá há vinte e dois anos. Nasci em São Paulo, meu irmão também nasceu em São Paulo. A gente estava estudando, pequenininhos. Os irmãos dos meus pais começaram a ir para lá. Todos moram lá. E aí, fomos também, alugamos uma casa, no cinco, moramos um tempo lá, estudando em Aldeia da Serra, no Pueri [Domus]. Depois compramos o terreno no Tamboré e fez a casa lá, que a gente mora há vinte anos.

 

CM Agora vem aquela: vocês gostam de morar em Alphaville? E por quê?Qual é a visão de morador?

 

LFO Vai ser difícil...

 

GT Atualmente, eu não gosto. Não tem mais nada a ver com a minha vida. Correrias mil, trânsito, transporte é horrível... Se eu não venho de carro, e gasto uma grana, eu tenho que sair de casa oito da manhã, com meu pai, ele me deixa no trem fico cinquenta minutos, se chove, é uma hora e pouco. E não condiz mais, com o tipo de vida que eu gosto de ter. Enfim, sair na rua, vê gente, poder ir comprar alguma coisa a pé. “Não tem mais nada a ver com a minha vida.” Mas comércio diversificado, lá não tem muito. Por mais que você tenha muitas opções, são todas muito parecidas. Ou então, você se desloca até o centro comercial, tem uma “pá” de lojas, restaurantes mil, cabelereiro, tudo, mas também é isso, você pega o seu carrinho, você estaciona, paga o estacionamento. É  uma dinâmica muito que não tem mais a ver comigo...

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CM Mas um dia teve?

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GT Teve. Eu nasci lá, praticamente. Eu tenho algumas memórias da minha vida antes, mas tudo que eu lembro mais, foi lá. Amizade foi tudo construído lá na escola, no Objetivo, e eu vivia muito bem, aquilo para mim era ótimo. Eu gostava, para mim aquilo estava bom, eu vinha muito pouco para São Paulo, fiquei talvez anos sem vir para cá. Uma coisa ou outra, vinha com meu pai ou com a minha mãe.

 

CM Vinha para o centro?

 

GT Não, se eu vinha para o centro eu vinha para a 25 [de março] comprar uma coisa com a minha mãe. Vinha no cinema, no teatro, coisas muito especificas. Pegar o carro, fazer as coisas e ir embora. E aí, eu fiz uns amigos aqui por conta do

 

CISV. Eu comecei a viver um pouco mais a dinâmica de São Paulo. Vinha na casa deles, mas sempre achei muito tranquila minha vida lá. Ia na casa das pessoas, festa na casa das pessoas, achava isso incrível: “meu, nem preciso ir para são Paulo” – com treze, catorze anos. Futebol de quarta feira com os meninos, churrasco. Para mim fazia sentido na época, porque fazia sentido para os meus pais, então eu meio que comprava a ideia deles.

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Mapa Nolli: Luiz Felipe 

nota: Estes mapas, produzidos pela equipe, pretendem relativizar as permissões de acesso dos entrevistados dentro do bairro de Alphaville, demonstrando onde cada pessoa pode ser liberada nas portarias.  O que está preenchido por cor é onde a pessoa não tem acesso e o recorte em branco onde ela pode sua entrada é permitida.

A referência para a produção de tais imagens são os mapas gravados em 1748 pelo arquiteto e agrimensor italiano Giambattista Nolli, que representou Roma destacando seus espaços cívicos livres, diferenciando-os do preenchimento preto que demarca lotes.

Mapa Nolli: Giovana

nota: Estes mapas, produzidos pela equipe, pretendem relativizar as permissões de acesso dos entrevistados dentro do bairro de Alphaville, demonstrando onde cada pessoa pode ser liberada nas portarias.  O que está preenchido por cor é onde a pessoa não tem acesso e o recorte em branco onde ela pode sua entrada é permitida.

A referência para a produção de tais imagens são os mapas gravados em 1748 pelo arquiteto e agrimensor italiano Giambattista Nolli, que representou Roma destacando seus espaços cívicos livres, diferenciando-os do preenchimento preto que demarca lotes.

ex-morador de Alphaville, estudante de arquitetura pela Escola da Cidade e ciências sociais pela USP, militante pelas causas gay e negra. Consideramos de suma importância sua fala por possibilitar a compreensão da experiência de crescer em Alphaville a partir da perspectiva de uma minoria. Afirma que num primeiro momento, não se via em tal condição, mas que atualmente isso é parte de reflexão critica a respeito de Alphaville. Esta entrevista foi intermediada por Camila Moraes, Beatriz Sallowicz e Marina Dias.

ENTREVISTA COM ARTUR
 

CAMILA MORAES Antes de sair de Alphaville e entrar nas faculdades, o que você pensava sobre o bairro?

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ARTUR SANTORO Eu acho que temos que dividir em dois momentos. Um primeiro momento, em que eu não estava envolvido com a militância, e depois, em que eu comecei a me envolver com a militância, que foi em 2013/2014. Por que antes de entrar na militância e na arquitetura, eu amava Alphaville. Por que, primeiro: eu estudava no São Luís, na Paulista, minha vida inteira, então via uma diferença muito grande com os meus coleguinhas que só brincavam no pátio do prédio. Eu tive a experiência de brincar na rua. Eu lembro de brincar na rua todos os dias com os vizinhos, de polícia e ladrão, “três-corta”, andava de bike tranquilamente pelo condomínio... Para a minha infância, foi muito boa essa experiência do brincar. Quando me vi na militância, eu estava quase saindo do colégio, no terceiro ano, comecei a enxergar umas coisas zoadas. Comecei a perceber que só tinha gente branca lá, que as pessoas falam umas coisas muito zoadas e têm umas atitudes muito complicadas. Quando entrei na arquitetura, eu ainda morava lá, e comecei a odiar mais ainda.

 

MARINA DIAS Você morou sua vida inteira em Alphaville?

 

AS Me mudei para Alphaville em 2003, quando eu tinha uns sete anos de idade, e fiquei até o começo desse ano. Antes eu morava perto da Vila Madalena. Agora, eu me mudei para a [rua] Maria Antônia, estou morando sozinho. Meus pais ainda moram lá em Alphaville, com o meu irmão mais novo.

 

BEATRIZ SALLOWICZ Seu irmão mais novo tem quantos anos? Ele já tem essa mentalidade?

 

AS Ele tem 18 anos. Eu sei que ele não gosta de lá. Eu tenho três irmãos, um é bem mais velho, mas os outros dois, o menos mais velho, estuda no São Luís também. Então todas nossas amizades já estavam aqui em São Paulo. Quando o meu irmão saiu do colégio, foi para a Unicamp, então está morando em Campinas. Então, Aplhaville já não é mais um peso na vida dele. Já, para mim que vim estudar na USP, fazer Escola da Cidade, fazendo tudo aqui em São Paulo, começou a ser um peso para mim. Então eu já comecei a odiar cada vez mais quando saí do colégio.

 

 

“eu ganhava 150 reais, metade era para eu voltar para casa”

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CB Um peso pela distância?

 

AS Pela distância e porque necessariamente precisa ter carro. O máximo é o ônibus que vai da Paulista até lá, mas o horário é muito limitado, caro, demora 1h a 2h. Então sempre dependia de carro, da minha mãe ir me buscar, de pegar Uber. Enfim, de aprender a dirigir, eu odeio dirigir. Aqui do centro, de madrugada, você sai num rolê, setenta a oitenta reais. Eu trabalho com festa, tocava de DJ, então ganhava 150 reais, metade era para eu voltar para casa. Ou, eu pegava CPTM e metrô aqui. Ia até a linha vermelha, pegava até a Barra Funda, pegava trem, para ir até a Antônio João, que é a mais perto de Alphaville e de lá pegava um Uber ou meu irmão, meu pai iam me buscar. Se eu pegava um Uber lá, eram 25 reais até o meu condomínio.

 

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MD Se você ficou aqui até os oito anos de idade, porque seus pais quiseram ir para Alphaville?

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AS Eu morava num apartamento muito pequeno, tinham três quartos. Moravam meus três irmãos, meus pais, minha tia avó, eram sete pessoas em um apartamento de três quartos. Era atolado de gente, cada quarto com duas pessoas e meu irmão mais velho dormia na sala. Era muito apertado, e minha mãe sempre teve aquela coisa que ganhou da mãe dela, então ficava tudo meio guardado, então ela sempre queria morar em casa, mas tinha muito medo de morar em casa em São Paulo. Porque ela tinha muito medo de assalto. Ela é de Maceió e lá rolava muito assalto de casa. Então, ela foi para Alphaville porque ela queria morar em uma casa, em um lugar que fosse minimamente seguro. Acho que espaço e segurança, eu diria.

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CB Porque você saiu de lá e o que mudou quando você saiu de lá?

 

AS Eu saí de lá porque era muito tempo de ida e volta, era 1h30 para ir e 1h30 para voltar. Ou seja, 3h a 4h por dia só na questão da mobilidade ou ter que depender dos meus pais ou trem, CPTM, demorava muito. Descia em Barueri para fazer baldeação na Antônio João, nessa baldeação, demorava 1h para chegar o trem. Principalmente quando era de sábado para domingo, demorava muito mais. As pessoas ficavam sentadas, dormindo até o fiscal passar batendo palma para as pessoas acordarem porque o trem chegou. Como eu estava trabalhando com festa, comecei a trampar no MASP, fazia faculdade de arquitetura e ciências sociais, não estava mais condizendo com as minhas necessidades. Então, já odiava, queria sair há muito tempo de lá. Queria morar sozinho há muito tempo. Então comecei a procurar apartamento, achei um com preço bom. Consegui um apartamento na [rua] Maria Antônia, está ótimo.

 

“era 1h para chegar o trem. Principalmente quando era de sábado para domingo, demorava muito mais. As pessoas ficavam sentadas, dormindo até o fiscal passar batendo palma para as pessoas acordarem porque o trem chegou.”

 

BS Hoje em dia você diria que tem amigos em Alphaville?

 

AS Como eu não estudei lá, eu não tinha muitos amigos lá. Meus amigos eram os amigos da rua e só, no máximo não passava de dez pessoas. E que eu tinha contato era mais a minha vizinha do lado, que eram duas irmãs e uma delas namorava o meu irmão, mas eles terminaram e a gente não se fala mais. Não tenho mais nenhum amigo lá. Tenho uma ou outra pessoa no Facebook, mas não amigo.

 

CB O que você pensa agora que saiu de Alphaville?

 

AS Se perguntar o que mudou: para vir para a faculdade eu demoro 3 minutos. Para voltar do rolê, saio na madrugada, eu pego um Uber: eu gasto seis reais, o mínimo. O custo reduziu muito, eu tenho mais horas de sono, o que para mim faz muita diferença. O tempo que eu gasto melhorou muito. Isso é o que para mim mudou mais. Eu moro muito perto de tudo que eu preciso, tenho ônibus perto, metrô. Tudo perto. A vida sexual melhorou muito.

 

MD E quanto a segurança?

 

AS Então, eu acho que melhorou. Eu percebo algumas coisas. Como eu morei em Alphaville muito tempo, eu acho que ainda tenho muito medo de andar na rua sozinho, à noite.

 

“O custo de vida reduziu muito [ao mudar para São Paulo], eu tenho mais horas de sono, o que para mim faz muita diferença. O tempo que eu gasto melhorou muito. Isso é o que para mim mudou mais. Eu moro muito perto de tudo que eu preciso, tenho ônibus perto, metrô. Tudo perto. A vida sexual melhorou muito.”

nota: Estes mapas, produzidos pela equipe, pretendem relativizar as permissões de acesso dos entrevistados dentro do bairro de Alphaville, demonstrando onde cada pessoa pode ser liberada nas portarias.  O que está preenchido por cor é onde a pessoa não tem acesso e o recorte em branco onde ela pode sua entrada é permitida.

A referência para a produção de tais imagens são os mapas gravados em 1748 pelo arquiteto e agrimensor italiano Giambattista Nolli, que representou Roma destacando seus espaços cívicos livres, diferenciando-os do preenchimento preto que demarca lotes.

pesquisa

Resultados da pesquisa online 

Qual o perfil, as vontades e motivos dos moradores do primeiro bairro Alphaville? Porquê uma família escolhe viver em um bairro em que as ruas residenciais são todas fechadas e circunscritas em condomínios fechados?

 

A partir de um questionário veiculado online, onde 356 respostas foram adquiridas, foi possível traçar o perfil de quem mora em Alphaville e quais são suas impressões sobre o bairro. O questionário foi veiculado a partir dos perfis da rede social Facebook das alunas autoras deste trabalho, sem se limitar somente aos contatos da lista de amigos de cada perfil, o que traria um resultado bastante direcionado e limitado. Como a intenção era coletar mais informações de moradores e frequentadores de Alphaville, de preferência não de arquitetos, mas sim da sociedade civil em geral, o questionário também foi divulgado em grupos privados da rede social específicos sobre o bairro.

 

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Ao final da pesquisa, foi possível traçar o perfil do moradortipo de Alphaville a partir de seus motivos para morarem no bairro e compará-los com os motivos percebidos por pessoas que não moram no bairro do que levaria alguém a decidir por esse estilo de vida.

 

Para adicionar mais dados ao debate, também conta-se com três entrevistas de moradores de Alphaville que não representam necessariamente o perfil-médio traçado na pesquisa. Foram entrevistados ex-moradores do bairro que decidiram voltar para São Paulo, estudantes de arquitetura da Escola da Cidade que atualmente residem em Alphaville e um estudante de arquitetura e ciências sociais, ex-morador de Alphaville e militante das causas negra e homossexual, para atingir uma percepção não generalizada sobre as relações sociais existentes no bairro.

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Fonte: captura de tela das interfaces dos sites de algumas associações , e também Facebook e Instagram

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