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QUEM TRABALHA LÁ?

Os habitantes flutuantes totalizam 200.000 pessoas, que correspondem a duas vezes e meia os 80.000 habitantes residentes.

quem mora
entrevistas

1. O que você costuma fazer em Alphaville, mora ou trabalha aqui?

2. Há quanto tempo você trabalha aqui?

3. Como você costuma vir pra cá, sugeriria alguma mudança de transporte?

4. Você costuma usar os serviços do bairro para resolver suas coisas?

5. Como você se sente aqui em relação ao bairro em que você mora?

 

A segunda ida ao Alphaville teve como região foco o Centro Empresarial. Foi possível prever com mais facilidade o perfil de pessoas que frequentariam tal lugar no horário comercial próximo do almoço. As seguintes entrevistas se deram no dia 06 de setembro de 2017, seguindo a mesma estruturação da visita passada.

 

O próximo objetivo foi alcançar os funcionários dos condomínios – domésticas, seguranças, jardineiros, piscineiros, babás – e estudantes das faculdades e colégios da região. Nos deparamos com a dificuldade de ter acesso a essas pessoas, devido os espaços onde se encontram terem a entrada restrita por uma ordem maior, seja uma portaria ou catraca. Pensados os horários e o local de visita necessários para encontrar o perfil planejado para entrevista, essa terceira visita, com saída às 16h do metrô Butantã e chegada as 17h30 no centro de Alphaville (trajeto de * Km) nos fez vivenciar a lógica atual do Alphaville São Paulo: o trânsito do horário de pico e, portanto, aquilo que tinha sido dito pelos entrevistados das visitas passadas. Escolhemos esse horário por coincidir com a saída de muitos funcionários e estudantes, e escolhemos dois pontos de ônibus por serem local de grande fluxo, majoritariamente da população flutuante. O primeiro perto de uma portaria de condomínio e o segundo perto da UNIP Unidade Alphaville. As seguintes entrevistas foram feitas no dia 11 de setembro de 2017.

 

É possível perceber, através da lista de entrevistas, que somente três das cinquenta pessoas entrevistadas são moradoras do bairro Alphaville, dado que nos permite concluir que a relação de morar e trabalhar pelo bairro não é muito comum. Ao invés disso, o mais comum, segundo tais entrevistas, é que a pessoa que tem seu emprego em Alphaville geralmente more nas cidades vizinhas ao bairro, como Barueri, Santana de Parnaíba, Osasco, Carapicuíba, Itapevi e até mesmo a própria São Paulo.

 

Com essas informações, foi possível produzir um mapa do movimento pendular que esses trabalhadores e estudantes fazem todos os dias na cidade. Sabe-se que, provavelmente, seus caminhos podem até ser mais complexos, considerando ao menos três pontos de parada no mapa para pessoas que têm jornada dupla ou que trabalham e estudam, mas a pesquisa considerou somente seu lugar de trabalho - Alphaville - e seu local de moradia, ou seja, somente dois pontos.

Alphaville não é composto somente por seus moradores. A maioria das pessoas que circulam pelas ruas públicas de Alphaville e andam pelo bairro sem usar um carro, populam as calçadas e os ônibus de linha não moram em Alphaville, mas vão todo dia trabalhar ali. O território do bairro pode ser na sua maior parte preenchido pelas glebas de condomínios fechados, mas é dentro deles e das suas casas, assim como nas glebas industriais, comerciais e empresariais, que reside o maior extrato da população do bairro.

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Os habitantes flutuantes totalizam 200.000 pessoas, que correspondem a duas vezes e meia os 80.000 habitantes residentes. Porém, é comum perceber que no imaginário sobre Alphaville essas pessoas não são as primeiras a serem mencionadas ou cogitadas como habitantes, pois são os moradores dos condomínios fechados que protagonizam o ideário do lugar.

 

Mas a tarefa de traçar o perfil dos moradores de Alphaville é mais direta: toda propaganda imobiliária já explicita quem são seu público alvo e ele realmente se concretiza nessa população residente, como mostra a análise da pesquisa feita no subcapítulo “Quem mora em Alphaville”. Por outro lado, conhecer quem são os membros desses 200.000 habitantes flutuantes já é uma tarefa mais complexa, pois certamente existem perfis diferentes de pessoas dentro desse número. A maneira que se mostrou mais eficiente para se descobrir quem são os habitantes flutuantes do bairro Alphaville foi a observação presencial seguida de entrevistas.

 

A partir do interesse de compreender os mais diversos perfis componentes da expressiva população flutuante de Alphaville, o trabalho tomou frente de uma pesquisa mais etnográfica e organizamos idas a campo para nos dedicar às narrativas desse grupo, a fim de voltarmos a uma análise de caráter qualitativo. O objetivo dessa abordagem foi destacar pequenos relatos e evidenciar alguns integrantes dessa grande massa apagada, força motriz que mantém Alphaville às ordens. A partir de 50 entrevistas feitas durante vários dias de trabalho de campo, conseguiu-se descobrir algumas características gerais e elencar a descoberta de perfis diferentes de pessoas dentro dessa população.

 

Essas entrevistas foram feitas em diferentes lugares do bairro para a obtenção de respostas de pessoas com diferentes profissões: empresários na gleba empresarial e industrial, comerciários no centro comercial e funcionários domésticos nos pontos de ônibus perto das portarias dos condomínios. Foram entrevistados desde funcionários domésticos à seguranças particulares, estudantes das escolas públicas de Barueri, estudantes da universidade particular UNIP, trabalhadores comerciais e trabalhadores empresariais.

 

Em nossa primeira ida (4 de setembro de 2017- no período da manhã), nos concentramos no Centro Comercial 1. Não sabíamos ao certo que população consumidora encontraríamos nas ruas de um centro cercado e com estacionamento pago antes do horário do almoço. Logo, nos ativemos principalmente aos funcionários das lojas, ou seja, a quem trabalha ali. Estabelecidos os eixos temáticos das perguntas, focamos em extrair a duração do trajeto feito de sua residência ao local de trabalho, ao mesmo tempo, como enxerga esse deslocamento diário e propostas de melhorias segundo sua opinião. Outra questão abordada foi a da sensação de segurança, temática recorrente entre os residentes locais, agora sob a ótica dos flutuantes. Na tentativa de não induzir respostas nessa última questão, perguntávamos quais eram as diferenças que percebiam entre sua cidade e Alphaville. quem trabalha LÁ 

QUEM TRABALHA LÁ?
 
ENTREVISTA COM SHARON, 29 anos

 trabalhadora da área comercial do bairro. Essa entrevista foi feita em um momento de descanso de Sheron em uma das pracinhas do Centro Comercial 1, perto de seu local de trabalho.

CAMILA MORAES Minha pergunta é: o que você vem geralmente você vem fazer aqui em Alphaville?

 

SHERON Trabalhar.

 

CM Onde você mora?

 

S Carapicuíba.

 

CM Como você vem?

 

S Venho de ônibus, transporte público, que é péssimo.

 

CM Quanto tempo você demora?

 

S Em média uns 40, 45 minutos, quando eu não pego trânsito. Quando eu pego trânsito, leva 1h30. Eu gasto muito tempo no trânsito. Na realidade, eu saio às 18h do trabalho. Para eu não pegar o trânsito na ponte [que atravessa o Rio Tietê, depois de cruzar a Rodovia Castelo Branco], eu vou a pé daqui até Carapicuíba. Em Carapicuíba eu pego um ônibus. Porque senão, fico 2h parada no trânsito.

 

CM Quanto tempo demora ir a pé daqui até Carapicuíba?

 

S Eu gasto 45 minutos andando todo dia nessa caminhada. Para vir, eu venho de ônibus, que quase não pego trânsito, mas para ir embora, eu tenho que fazer isso. Senão, só chego em casa 21 horas, porque lá pelas 17h-18h pára tudo.

 

CM Você trabalha aqui há muito tempo?

 

S Nessa empresa vai fazer três anos, mas dentro do centro comercial, já tem uns seis anos que trabalho.

 

CM Muita gente acaba trocando de emprego aqui mesmo?

 

S Sim, Acho que pelo costume também. A gente conhece muitas pessoas, conhece pessoas de longe, conhece outro, acaba virando uma família.

 

CM A gente viu muita gente com uma pastinha andando aqui dentro. Você sabe quem são essas pessoas?

 

S Nossa, é o que mais tem. São pessoas com currículo. Tem muita gente desempregada, e não é só por falta de estudo. Eu conheço pessoas, por exemplo umas clientes que vão no café onde eu trabalho, que falam duas línguas, fizeram faculdade e estão desempregadas.

 

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CM Sobre o transporte, você sugeriria alguma mudança nesse trajeto que faz todo dia?

 

S Acho que deveriam por mais ônibus na linha que eu pego. Eu pego a Ana Estela, ele vem como Trevo Alphaville e volta como Ana Estela, e só tem dois ônibus na linha no horário de pico. Só falta jogar o óleo para virar uma lata de sardinha.

 

CM Como você se sente aqui em relação ao bairro em que você mora?

 

S Você fala das diferenças? Aqui eu me sinto mais protegida, aqui as pessoas são  mais educadas, aqui é totalmente diferente.

 

CM Aqui em Alphaville você frequenta só o Centro Comercial?

 

S Sim. Só fico aqui mesmo. Porque aqui, se você precisar comprar alguma coisa, tem loja de tudo. Eu trabalho de segunda a sexta, faço 11h por dia, entro às 8h e saio às 18h. Eu não tenho tempo de comprar nada. Na hora do meu almoço, aqui é um horário mais acessível, tem várias lojas, vários lugares, tudo vende aqui. Faço tudo aqui mesmo. Não tem tempo de resolver as coisa para lá, resolvo aqui. Faço bem pouca coisa em Carapicuíba.

 

BEATRIZ SALLOWICZ Com que frequência você vai para São Paulo?

 

S Não vou muito. São Paulo, eu vou mais para o fim do ano, nas festas, porque aí eu vou comprar roupas na 25 [de março].

 

CM Quando você vai para São Paulo, você vai de transporte público?

 

S Sim. Vou de trem, ônibus... O trem é mais rápido, não pega trânsito. É mais rápido, você não fica de pé, você fica pouco tempo, é bem melhor. Nossa, ia ser ótimo ter um trem até Alphaville, porque quem quisesse andar de trem, já ia esvaziar a rua, ia ter um jeito melhor dos carros se movimentarem, porque já ia aliviar um pouco por causa do pessoal do trem. Seria muito bom. Seria tão bom que não dá nem para imaginar.

nota: Estes mapas, produzidos pela equipe, pretendem relativizar as permissões de acesso dos entrevistados dentro do bairro de Alphaville, demonstrando onde cada pessoa pode ser liberada nas portarias.  O que está preenchido por cor é onde a pessoa não tem acesso e o recorte em branco onde ela pode sua entrada é permitida.

A referência para a produção de tais imagens são os mapas gravados em 1748 pelo arquiteto e agrimensor italiano Giambattista Nolli, que representou Roma destacando seus espaços cívicos livres, diferenciando-os do preenchimento preto que demarca lotes.

ENTREVISTA COM LUIS, 52 anos

entrevista com um empresário do bairro. Luiz é dono de um restaurante dentro do Centro Comercial 1.

CAMILA MORAES A gente queria saber primeiro: o que você costuma fazer aqui em Alphaville?

 

LUIZ Eu não moro aqui, moro em São Paulo e sou dono desse restaurante aqui em frente, já vai fazer três anos.

 

CB Como você vem para cá?

 

L De carro. Saio de casa cedo, pra não pegar esse trânsito doido. Demoro aí de 1h a 45 minutos no trânsito para vir, e para voltar um pouquinho mais.

 

BEATRIZ SALLOWICZ De que bairro de São Paulo você vem?

 

L Bosque da Saúde.

 

CM Antes de ter o restaurante aqui, você já frequentava o bairro?

 

L Antes de comprar o negócio aqui, eu vinha algumas vezes, gostei da região, tinha muito comércio, então acabei comprando aqui.

 

CM Por quê você achou o Centro Comercial uma boa opção de negócio?

 

L Na época eu achei que fosse, tive uma boa oportunidade, achei que seria um lugar bom para trabalhar porque é livre de assaltos, livre de algumas coisas. Aqui é fechado, então acaba sendo mais seguro. Tem seus lados positivos como tem seus lados negativos.

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BS Quais são os lados negativos?

 

L Negativo porque muitas empresas da região estão indo embora. A prefeitura de Barueri não está incentivando as empresas a virem para cá como antes, aumentaram os impostos. Antes de a gente vir para cá, anos atrás, tinham muitas empresas, mas agora estão indo embora. A Amil, que estava aqui há anos por exemplo, foi embora com mil e poucos funcionários. Ainda deve ter alguma coisa, mas alguma àrea pequena, de administração. Eu tinha mais de oitenta clientes só da Amil, almoçavam aqui todos os dias. Agora, o restaurante está vazio. Mas é a própria crise, essa época... Nessa área aqui, por exemplo, muitas empresas fecharam e muito comércio já fechou. Só para ter uma ideia, eu participo das reuniões aqui e sei que todos os andares aqui na parte de cima [o Centro Comercial 1 é composto por prédios de térreo comercial e 1 a 2 andares de serviço] estão vazios. Quem vê a parte de baixo, pensa que está cheia, está com comércio, mas 65% da parte de cima da maioria dos imóveis, onde costuma ter escritório, dentista, uma clínica pequena, um advogado, contabilidade.... está vazio. Está tudo vazio.

 

BS Sobre essas reuniões que o senhor falou: aqui no Centro Comercial tem uma associação? 

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L Tem uma associação interna, do próprio Centro Comercial, que administra o lugar. Eles marcam a cada três, seis meses, uma reunião. Imaginem, aqui tem que pagar condomínio, que é muito caro, além do aluguel da loja, que aqui também é um absurdo. O condomínio é referente a manutenção geral, acaba rateando a despesa de jardinagem, de segurança, outras coisas mais. É a época, não é? Dá uma olhadinha, o que você vê aqui? A maioria das pessoas que você vê aqui, por exemplo, das 8h as 9h da manhã, até umas 10h30 as 11h, está tudo assim, com uma pastinha. Hoje mesmo já vieram três currículos aqui pra mim. Essas pastinhas são tudo currículo na mão. Esse pessoal que você vê aqui não é gente que está a trabalho, é tudo gente que está buscando trabalho.

 

 

CM Nós percebemos mesmo a presença dessas pessoas. Você diria que o Centro Comercial é um polo de emprego em Alphaville?

 

L O Centro Comercial é um polo de emprego, só que, na época que estamos passando, não está gerando emprego por causa da própria economia. Abriu aqui na frente, na Alameda Madeira, esse prédio grandão. [aponta em direção a um novo empreendimento fora do Centro Comercial] Ele está com 65-70% das salas vazias. E muita gente saiu daqui do Centro para ir para lá, porque o condomínio é menor. O pessoal esta migrando para lá. Aqui precisaria incentivar, a própria administração deveria fazer alguma coisa para falar com os proprietários, trazer pessoas para cá. Por exemplo, buscar os melhores pontos daqui da região de Alphaville ou lá da parte de Barueri, que tivesse algum ônibus trazendo gente para cá. Hoje mesmo em São Paulo, a gente vê os estacionamentos de alguns shoppings, já não estão mais cobrando estacionamento, se você já gastou uma quantia de nove reais, você já está livre. Aqui não, aqui sai cara a entrada de estacionamento. ​

Um dos motivos também que muitas vezes não vem para cá, porque fica 4 a 5 horas e paga vinte reais de estacionamento, dez a quinze vagas. Aí fica difícil para todos. Se você para pensar, pessoal que vem almoçar aqui, gasta catorze reais se contar pela semana, são cem reais a semana. Só para comer, e isso que esse valor, não dá no fim do mês, a pessoa depende de uma condução também. Então, a despesa... quanto ganha um ajudante? No máximo mil e duzentos reais? A não ser que ele tenha um cargo maior, e aí tem que ter uma formação para ter um salário maior que.

 

CB Sobre o transporte, você mudaria alguma coisa de São Paulo para cá?

 

L No meu caso você fala? Eu tenho vontade de morar aqui em Alphaville. Tenho vontade porque é um bairro mais tranquilo. Sob o que eu tenho observado comparando a São Paulo está bem mais tranquilo. Por exemplo, ontem mesmo no Morumbi, não sei se vocês acompanharam, teve um assalto numa casa grande lá, dez bandidos, mas a polícia matou todos. Então São Paulo está muito violento. A gente tem família, tem mulher, tem filho, está muito violento. Então a gente acaba ficando preocupado com isso também.

 

CB Aqui você gostaria de morar num dos condomínios ou em prédio?

 

L Eu já moro em prédio há tantos anos... e, um dia , se der tudo certo, vou poder morar em um condomínio, mudar um pouco. Quando eu me casei, eu fui direto para o apartamento em que eu moro.

 

CB Você costuma usar muito os serviços daqui, resolver sua vida mais aqui ou mais em São Paulo?

 

L Eu estou tentando me adaptar a fazer tudo o que preciso mais aqui. Meu filho tem que fazer um exame médico amanhã, aí já falei para ele fazer por aqui. Ele ia fazer no Delboni [Auriemo] em São Paulo, aí eu falei para ele marcar no Delboni daqui. Assim, a gente já vai tentando trazer a vida para cá.

 

CB A última pergunta, como você se sente em relação a Alphaville e ao seu bairro?

 

L Me sinto melhor aqui em ALphaville. Tudo o que você quer fazer na vida, se pretende construir alguma coisa, você procura segurança, você procura tranquilidade... Já estão tão difíceis as coisas, em termos de resultado, que pelo menos você tem um pouquinho de paz.

nota: Estes mapas, produzidos pela equipe, pretendem relativizar as permissões de acesso dos entrevistados dentro do bairro de Alphaville, demonstrando onde cada pessoa pode ser liberada nas portarias.  O que está preenchido por cor é onde a pessoa não tem acesso e o recorte em branco onde ela pode sua entrada é permitida.

A referência para a produção de tais imagens são os mapas gravados em 1748 pelo arquiteto e agrimensor italiano Giambattista Nolli, que representou Roma destacando seus espaços cívicos livres, diferenciando-os do preenchimento preto que demarca lotes.

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